O educador José Francisco Soares,
presidente do Inep, órgão responsável pelo Enem, é um dos principais
palestrantes do Educação 360
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POR ANDRÉA
RANGEL
O globo
RIO - Referência em
análise de sistemas de avaliação educacional, José Francisco Soares é
presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep),
órgão responsável pelo Exame Nacional do Ensino Médio, ferramenta de avaliação
do aprendizado nas escolas e principal porta de entrada ao ensino superior no
Brasil, cuja edição de 2014 conta com mais de 8,7 milhões de inscritos. Nesta
entrevista, o especialista comenta as funções do exame, suas consequências e
informa que, este ano, o órgão começou a certificar todos os corretores da
redação do Enem, que estão passando por cursos de capacitação.
O Enem é um processo
seletivo para universidades e uma ferramenta de acompanhamento do aprendizado.
O senhor poderia comentar essa dupla função?
O Enem tem várias
funções. Entretanto, a sua maior função é fornecer às universidades uma medida
confiável e precisa do desempenho dos alunos nas ciências humanas, nas ciências
da natureza, na matemática, nas linguagens e na redação. As universidades
utilizam essas notas para fazer a seleção de seus alunos. No entanto, há outra
dimensão, a da avaliação do desempenho dos alunos do ensino médio, menos
utilizada. A avaliação externa deve cuidar para ser mais justa
educacionalmente. O sistema de avaliação não fez tudo o que pode fazer.
Um
novo projeto pedagógico será incorporado à matriz do exame?
Nesse instante, o
Inep está envolvido em dar relevância à avaliação. Esta avaliação tem como
unidade a questão de prova, o item. Na medida em que existem itens comentados
vinculados ao currículo, vamos ter um uso pedagógico mais efetivo do Enem.
As
escolas estão conseguindo se apropriar dos resultados do Sistema de Avaliação
da Educação Básica (Saeb) e da Prova Brasil para aprimorar a qualidade de
ensino?
Os sistemas de
avaliação não produzem informações pedagógicas na mesma dimensão e importância
dos indicadores numéricos. E é exatamente isso que, mudando, vai tornar as
avaliações mais relevantes. O Inep está procurando mudar a sua rotina para
incluir esse tipo de informação na divulgação das avaliações.
O
Inep prevê novidade para as provas de redação do Enem deste ano?
A próxima etapa será
certificar todos os corretores. Este ano, 969 supervisores foram submetidos ao
processo de certificação. Após uma capacitação com 30 horas, eles passaram por
uma prova presencial, na qual avaliaram redações com notas já conhecidas e
produziram um texto. Ganharam o certificado de excelência, nesse primeiro
processo, 677 supervisores. Esperamos que, nos próximos anos, só corrija o Enem
quem for certificado.
O que faz uma escola
ser reconhecida como instituição de qualidade?
Uma boa escola
consegue manter o seu aluno e ensiná-lo. Isto é muito difícil em determinadas
circunstâncias, mas a manutenção e a promoção do aluno e, naturalmente, o
aprendizado são os indicadores que a gente busca. Entretanto, uma boa escola é
a que consegue obter esses resultados num bom ambiente, em que alunos e
professores se sintam bem. A boa escola produz resultados por um processo que
contribui para a formação integral do aluno, cognitiva, social e ética.
Já
temos os instrumentos necessários para avaliar a educação no Brasil? O que
precisa ser aperfeiçoado ou implementado?
Com a aplicação da
Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA) na fase final do Ciclo de
Alfabetização, nós temos agora uma avaliação aos oito anos, outra aos 14 e o
Enem. Nós temos os instrumentos. O que é preciso é aperfeiçoá-los. Por exemplo,
é preciso que a gente discuta se o que estamos cobrando nesses testes é, de
fato, aquilo que deveria ser cobrado.
Quais
serão os principais assuntos abordados durante a sua conferência no Educação
360?
O Inep procura dar à
sociedade informações de dois resultados: a trajetória e o aprendizado. Então,
vou sublinhar e analisar a importância desses dois resultados na concretização
do direito à educação, que precisa estar sistematizada em indicadores de
processo e de resultado.
Muitos
pais se baseiam no ranking das escolas mais bem colocadas no Enem. Poderia
comentar as vantagens e desvantagens desses rankings?
O papel do Inep é
divulgar informações sobre os censos e as avaliações, entre as quais o Enem,
para que a sociedade tome decisões. A criação de rankings é uma forma muito
limitada de síntese. Por isso, o Inep não faz rankings. Quem faz isso são os
usuários da informação pública disponibilizada pelo Inep. E os rankings são
usualmente feitos com a média do desempenho dos alunos de uma escola, não
mostrando a variedade de desempenho entre eles. A escolha de uma escola deve
passar por muitos critérios. As famílias devem saber que os filhos podem
aprender em escolas com diferentes projetos pedagógicos e devem avaliar qual
projeto está mais adequado para seus filhos. Há pessoas que se sentem melhor em
escolas que valorizem outras dimensões além da cognitiva. Portanto, o ranking
dá informações secundárias para a escolha.
O
ensino médio se tornou um mero preparatório para o vestibular ou o Enem?
Tradicionalmente, o
ensino médio é influenciado pelos exames de admissão das universidades e,
agora, pelo Enem, que tem várias vantagens em relação ao vestibular. Uma vantagem
particularmente importante é a mobilidade. O aluno faz um único exame e, com
ele, acessa um conjunto grande de universidades. No entanto, o acesso à
universidade não deveria ser a única finalidade do ensino médio. Ainda há
muitas discussões sobre esse tema no Congresso Nacional, no debate educacional
e fora dele. O ensino médio deve ser a etapa final da educação básica, depois
da qual o aluno deve estar preparado para a vida do trabalho e da cidadania. A
universidade, embora desejada, não é a única trajetória para todos os alunos. O
acesso a ela, entretanto, deve ser aberto a todos.
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